Considerando que não há publicitação do nome do alegado ministro sob investigação pelas polícias britânicas e nacionais sobre eventual favorecimento na mudança da zona de protecção do estuário do Tejo para que, assim, se construísse o Freeport, todos os antigos ministros de António Guterres passam a estar, na praça pública, sob suspeita.
Isto não é só mau como define um País. A saber:
1 - Não ha UM ex-ministro (ou seu familiar) que se sinta ofendido com o boato. Se houvesse, o jornal "Sol" e a jornalista Felícia Cabrita estariam em maus lençóis;
2 - As sucessivas respostas da Procuradoria Geral da República sem que ninguém lhe pergunte nada são reveladoras de melindre.
3 - Há que distinguir entre o meio de prova, a prova, o indício e uma data de figuras jurídicas existentes numa investigação ou eventual julgamento. O jogo semântico nada interessa ao público e aos eleitores. O que lhes (nos) interessa é saber se algum político português, no exercício das suas funções, usurpou os seus poderes ou deles se fez valer para aprovar uma medida que tenha, eventualmente, sido incorrecta.
4 - Não está provado que a construção do empreendimento comercial tenha prejudicado o estuário do Tejo. Não está provado também o contrário. Aliás, o Freeport, para infelicidade dos seus empreendedores, dos seus trabalhadores e do meio onde está, revelou-se muito aquém das expectativas comerciais e de lucro.
5 - Interessa saber se o que um tal de senhor Smith diz num alegado video (que terá gasto dinheiro dos investidores, inclusivé da família Real britânica) é verdade. Isto é, se o senhor Smith diz aquilo que diz, se o dinheiro foi mesmo gasto em luvas ou foi usado noutra coisa qualquer e se os nomes ou nome que o senhor Smith refere alguma vez receberam ou recebeu o referido dinheiro.
6 - O video do senhor Smith nada prova. A notícia do "Sol", embora meritória pela investigação que está por detrás e todo o trabalho da jornalista Felícia Cabrita, peca por escassa, perigosa e enganadora.
6.1 - Porque não revela o nome referido, essencial para a precepção do caso e sua dimensão.
6.1 - Perigosa, porque lança um manto de suspeição de Sousa Franco (já falecido) a Maria de Belém (que preside a comissão de inquérito ao caso BPN); de Oliveira Martins (que hoje é Presidente do Tribunal de Contas...) a Jorge Coelho (hoje líder de uma empresa de construção civil candidata a milhões em projectos estatais), de Mariano Gago a António Costa, a José Sócrates, (actualmente em funções governativas ou de poder).
6.3 - Enganadora, porque se for verdade a sua manchete, isto é, se estiver provado, do ponto de vista jornalístico, e sob todo o rigor a que isso obriga, que um ex-governante recebeu luvas, essa informação não está no jornal. Pode estar na redacção, pode estar em posse do jornal. Mas não se pode, de forma lógica ou mesmo silogistica, chegar à conclusão que o jornal chega apenas com o que ali está escrito.
Ora, parece mais do que evidente que a pressa da PGR em comentar sobre o texto revela que o "Sol" está a apertar o cerco ao dito ministro e que a revelação do seu nome pode estar para breve. Se o "Sol" assim o decidir, isto é, se o "Sol" decidir publicar o nome em causa, terá que ultrapassar vários problemas. A saber:
1. Uma eventual providência cautelar do visado.
2. Uma eventual providência cautelar das polícias ou da PGR, uma vez que o processo está a ser investigado.
3. Eventuais processos de difamação, abuso de liberdade de imprensa, atentado ao bom nome, etc., que o(s) visado(s) entendam por bem colocar.
Perante isto, ha ainda que sobrelevar que, apesar desta ser, sem dúvida, a notícia da semana, poucos foram os órgãos de comunicação jornalistica que nela pegaram, para a relatar ou apenas fazer o que se chama, na gíria, um "follow up". Um "follow up" interessante seria, por exemplo, ligar a todos os ex-ministros e perguntar-lhes o que acham ter sido visados...
Em resumo: o caso Freeport acabará deslindado pelos britânicos que, ao abrigo da mais antiga e rameira aliança do mundo, hão-de ter sobre Lisboa mais uns bons anos de domínio e influência, porque têm informação que preocupa o poder português. Antes o segredo em Londres do que a verdade no mar da palha...
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